Templo da Angustia

Imagem de Solaria


O Templo da Angústia repousa nas entranhas mais sombrias de Ghulmar, um santuário esculpido na própria essência do sofrimento. Suas muralhas não são feitas apenas de pedra e ossos, mas também de lamentos cristalizados ao longo das eras, um testemunho das incontáveis almas que ali enfrentaram sua ruína. O próprio ar dentro do templo parece mais denso, como se o espaço entre as paredes estivesse repleto de um peso invisível, uma presença que observa e julga cada passo dos que ousam atravessar seus portões. Nenhuma luz natural penetra suas câmaras, e as tochas que iluminam seus corredores ardem com chamas pálidas e trêmulas, como se até mesmo o fogo temesse permanecer aceso ali por muito tempo.

Os corredores do templo são um labirinto de provações, onde cada sala representa um desafio pior que o anterior. Diz-se que, antes mesmo de cruzar a entrada, o visitante já é testado, pois o templo sente suas fraquezas e murmura seus medos mais profundos. Muitos guerreiros sucumbem antes mesmo de levantar suas armas—seus corpos congelam no limiar da entrada, paralisados por terrores que ninguém mais pode ver, e ali permanecem, imóveis, até que suas almas se dissolvem na pedra fria. Aqueles que conseguem entrar são recebidos pelos ecos distorcidos de batalhas que já ocorreram ali, gritos que parecem vir de tempos esquecidos, sussurros que pertencem a guerreiros cujos nomes foram apagados da história.

As provas do templo são uma mistura de resistência física e tormento mental. Cada sala apresenta uma visão diferente do desespero: para alguns, o inimigo assume a forma de um reflexo distorcido de si mesmo, forçando-os a lutar contra seus próprios pecados e arrependimentos. Para outros, a batalha se dá contra feras espectrais, criaturas que não sangram, não cansam e não sentem dor. Há ainda aqueles que não enfrentam nenhum adversário visível, mas são atacados por seus próprios demônios internos—memórias distorcidas, rostos de entes queridos transformados em monstros, vozes familiares que sussurram mentiras e verdades impossíveis de distinguir.

Nenhum guerreiro sai do templo ileso. Cada desafio consome algo do desafiador, arrancando pedaços de sua alma como um escultor impiedoso talhando uma obra macabra. Alguns perdem membros físicos—braços decepados, olhos queimados, pernas que jamais se moverão novamente. Outros, no entanto, perdem algo muito mais profundo: a humanidade. Ao emergirem das profundezas do templo, seus olhos não brilham mais com a mesma vida, suas vozes tornam-se monótonas, e seus corpos, mesmo intactos, carregam um peso invisível, como se uma parte deles tivesse ficado para trás, fundida às sombras do templo.

Há aqueles que acreditam que o templo não foi construído, mas sim descoberto, uma relíquia de um tempo anterior à própria existência dos reinos mortais. Segundo as lendas, ele já existia antes do primeiro guerreiro, antes da primeira lâmina ser forjada, antes mesmo de Ghulmar ser chamado de lar. Alguns dizem que foi esculpido pelas mãos de deuses caídos, enquanto outros acreditam que é uma prisão para algo que jamais deveria ser libertado. Mas seja qual for sua origem, seu propósito permanece o mesmo: testar, destruir e moldar os que ousam enfrentá-lo.

Os poucos que conquistam o templo emergem como campeões, seus nomes ecoando em canções de guerra e lendas sussurradas ao redor das fogueiras. No entanto, a glória que carregam vem com um preço que poucos entendem. Dizem que os vitoriosos nunca dormem profundamente, que seus sonhos são invadidos pelos mesmos horrores que enfrentaram dentro do templo. Muitos passam o resto de suas vidas em silêncio, incapazes de compartilhar o que viram ou sentiram, enquanto outros desaparecem sem deixar vestígios, como se o próprio templo os chamasse de volta para reclamar aquilo que havia sido temporariamente libertado.

O Templo da Angústia não é apenas um lugar de provações. Ele é um devorador de almas, um arauto do desespero, um desafio que apenas os verdadeiramente fortes ousam enfrentar. Mas mesmo entre os vitoriosos, há quem diga que ninguém realmente vence o templo—ele apenas permite que alguns saiam, carregando consigo cicatrizes que nunca serão curadas.

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