As Ruínas da Névoa repousam no coração de Ghulmar como um espectro de tempos esquecidos, um labirinto de estruturas corroídas pelo tempo e pelo desespero daqueles que ousaram cruzar seus limites. As pedras que um dia sustentaram grandiosos salões agora jazem espalhadas, formando corredores sem saída e pilares quebrados que apontam para o céu como dedos acusadores. A névoa densa que cobre o local parece viva, se movendo em redemoinhos sutis, ocultando passagens, criando ilusões e abafando qualquer som que tente atravessá-la. Ela sussurra segredos indecifráveis, carregando consigo fragmentos de um passado sombrio que poucos ousam investigar.
Ninguém sabe ao certo quem construiu essas ruínas. Não há registros escritos, nem relatos de velhos bardos que possam explicar sua origem. Tudo o que resta são símbolos enigmáticos gravados nas paredes esburacadas, escritos em uma língua esquecida, cuja simples tentativa de decifração já levou estudiosos à loucura. Há quem acredite que este lugar foi uma cidade grandiosa, um centro de poder e conhecimento, mas algo aconteceu—algo tão terrível que fez com que seus habitantes desaparecessem sem deixar vestígios. As únicas pistas dessa tragédia são as marcas de garras que dilaceram colunas inteiras e os ossos espalhados pelo chão, alguns pertencentes a criaturas que nunca foram catalogadas. O que quer que tenha ocorrido nas profundezas da névoa foi um massacre, uma guerra travada entre forças que transcendem o entendimento humano.
Os poucos que se atrevem a explorar as Ruínas da Névoa falam de presenças invisíveis, de olhos ardentes que os observam através da névoa e de vozes sussurradas que ecoam sem origem aparente. Muitos afirmam ter visto sombras movendo-se na névoa, formas distorcidas que nunca podem ser claramente identificadas, mas que sempre parecem se aproximar quando ninguém está olhando. Outros relatam que a névoa tem vontade própria, que se prende aos corpos dos viajantes como se tentasse absorvê-los, sufocá-los, arrastá-los para algum lugar desconhecido. Mas o pior destino não é o daqueles que somem sem deixar rastros—são os que voltam.
Os guerreiros que se aventuram muito fundo nas ruínas jamais retornam como eram antes. Alguns voltam cegos, alegando que a escuridão tomou seus olhos como um castigo por algo que viram e jamais deveriam ter visto. Outros perdem a fala, como se suas gargantas tivessem sido seladas por dedos invisíveis, impedindo-os de contar o que testemunharam. E há aqueles que perdem não apenas a visão ou a voz, mas a sanidade. Eles retornam murmurando palavras sem sentido, repetindo nomes desconhecidos, falando sobre horrores que espreitam além da névoa, sobre bocas sem rosto e mãos que nunca soltam. Muitos desses desafortunados não vivem por muito tempo—alguns se atiram em precipícios, outros cortam suas próprias línguas para silenciar os sussurros em suas cabeças.
Existem histórias sobre um lugar ainda mais profundo dentro das ruínas, um ponto onde a névoa é tão espessa que nem mesmo tochas conseguem atravessá-la. Dizem que no coração desse nevoeiro, há uma porta de pedra negra, fria ao toque, com gravuras que parecem se mover levemente quando vistas de relance. Aqueles que chegaram perto o suficiente para descrever, falam de um som rítmico vindo de dentro dela, como uma respiração lenta e profunda, algo dormente, mas não morto. Alguns acreditam que este seja o túmulo de uma entidade esquecida, um deus banido que aguarda o momento de despertar. Outros dizem que é um portal para um mundo onde a própria morte não significa o fim, mas o início de um tormento eterno.
A única certeza é que ninguém sai ileso das Ruínas da Névoa. Para alguns, a loucura é instantânea. Para outros, é um veneno que se infiltra lentamente, corroendo a sanidade até que a pessoa não seja mais nada além de um reflexo distorcido do que já foi. Os mais supersticiosos acreditam que a névoa está viva, que se alimenta dos sonhos, das lembranças e até das almas dos que nela se perdem. Mas a verdade jamais poderá ser descoberta, pois cada vez que alguém se aproxima de entender os mistérios das ruínas, a névoa se fecha ao seu redor, e mais uma história se torna apenas um eco sem resposta.