O Castelo de Zeem ergue-se imponente sobre um penhasco sombrio, onde os ventos uivantes carregam o lamento dos que jamais retornaram. Sua silhueta se projeta contra um céu permanentemente enevoado, como um monumento à morte e à desolação. A própria terra ao redor parece amaldiçoada—árvores retorcidas sem folhas, um solo seco que se recusa a dar vida e um silêncio inquietante que pesa no ar, interrompido apenas pelo som ocasional de gritos distantes, cuja origem ninguém consegue determinar. Dizem que aqueles gritos pertencem às almas dos desventurados que cruzaram os portões do castelo e jamais foram vistos novamente.
Diferente de qualquer outra fortaleza erguida por mãos mortais, o Castelo de Zeem não foi construído com pedra ou madeira, mas sim com os restos de criaturas que desafiam a compreensão. Suas muralhas são formadas por colunas ósseas entrelaçadas, moldadas em padrões impossíveis e tão densas que nem mesmo lâminas encantadas podem cortá-las. As torres se elevam como lanças em direção ao céu, feitas das vértebras de monstros cujos nomes se perderam no tempo. A entrada principal é vigiada por duas mandíbulas gigantescas, pertencentes a uma fera desconhecida, que parecem prestes a se fechar sobre qualquer um que se aproxime sem permissão. No coração do castelo, no grande salão de audiências, repousa o trono de Lorde Zeem, esculpido diretamente no crânio de um dragão ancestral. Os olhos vazios do crânio ainda brilham em tons avermelhados, como se chamas distantes ainda queimassem em suas profundezas, observando e julgando todos que se atrevem a pisar naquele solo amaldiçoado.
Nenhum viajante pode chegar ao castelo sem sentir sua presença antes mesmo de vê-lo. A energia sombria que emana de suas muralhas pode ser sentida a léguas de distância, uma força invisível que pressiona o peito dos incautos, como se um peso invisível tentasse impedir seu avanço. Muitos desistem antes mesmo de enxergar seus portões, vencidos pelo medo, pelo frio anormal que se infiltra em seus ossos e pelo instinto primitivo que grita que seguir adiante significa selar seu próprio destino. Os poucos que persistem falam de um caminho traiçoeiro, envolto em névoa negra que obscurece o chão e esconde armadilhas mortais. Há quem diga que o próprio terreno ao redor do castelo está vivo, se retorcendo e mudando para confundir os forasteiros, transformando atalhos seguros em becos sem saída, onde ecos de passos que não pertencem a nenhum ser vivo ressoam na escuridão.
O dono deste castelo, Lorde Zeem, é uma entidade envolta em mistério e terror. Dizem que ele não é um homem comum, nem mesmo um ser vivo no sentido tradicional. As lendas afirmam que ele já foi um guerreiro lendário, mas que, em sua busca por poder absoluto, ultrapassou os limites da mortalidade. Agora, seu corpo é mantido intacto por forças além da compreensão humana, sua pele fria como mármore, seus olhos sem qualquer traço de humanidade. Acredita-se que sua imortalidade seja sustentada pelo sangue de suas presas, pois aqueles que adentram seu domínio jamais retornam, e seus corpos nunca são encontrados. O ar dentro do castelo carrega um cheiro ferroso e doce, uma fragrância sutil que se mistura com o aroma pútrido da morte e da magia antiga. Alguns afirmam que as sombras ao redor de Lorde Zeem se movem por conta própria, estendendo-se como tentáculos famintos, sussurrando em línguas esquecidas, revelando segredos proibidos para aqueles tolos o suficiente para escutá-los.
As próprias paredes do castelo não são meras estruturas inanimadas. Aqueles que passam tempo demais dentro de suas muralhas relatam ouvir vozes sussurrando seus nomes, chamando-os suavemente como uma mãe que embala uma criança para dormir. Às vezes, essas vozes imitam pessoas conhecidas, entes queridos falecidos ou amigos desaparecidos, tentando seduzir os desavisados a seguirem caminhos sem volta. Os portões do castelo, pesados e impossíveis de mover para qualquer um que tente abri-los, têm uma vontade própria: quando alguém entra, eles se fecham sozinhos, selando o destino dos visitantes. Muitos acreditam que uma vez que alguém cruza esses portões, sua alma já pertence ao castelo, mesmo que seu corpo ainda respire.
O salão principal é um lugar de pesadelos, um espaço vasto iluminado por chamas esverdeadas que dançam sobre velas negras, lançando sombras distorcidas nas paredes feitas de costelas gigantescas. Tapeçarias antigas, manchadas por algo que se recusa a desaparecer, pendem dos pilares, retratando cenas de batalhas que parecem se mover levemente quando ninguém está olhando diretamente para elas. O chão é um mosaico de ossos quebrados, polidos ao longo dos séculos por passos inumeráveis. No centro desse cenário macabro, o trono de Lorde Zeem se ergue como o ápice do horror, seu brilho fantasmagórico pulsando levemente, como se estivesse respirando.
Apesar de todas essas histórias e avisos, existem aqueles que ainda buscam o castelo. Alguns são guerreiros em busca de glória, querendo desafiar o imortal Lorde Zeem em combate, acreditando que podem ser os primeiros a derrotá-lo. Outros são feiticeiros e estudiosos do oculto, atraídos pelo conhecimento proibido que dizem estar escondido dentro da fortaleza. Há também aqueles que são chamados pelo castelo sem sequer saber o motivo—homens e mulheres que começam a ter sonhos recorrentes com suas torres sinistras e corredores infinitos, que sentem um desejo incontrolável de encontrar seu caminho até lá, como se suas almas já pertencessem ao lugar. Nenhum deles volta para contar o que encontrou.
O Castelo de Zeem permanece como um enigma, uma relíquia de uma era esquecida, um túmulo sem fim para os tolos que acreditam que podem desafiá-lo. Ele não envelhece, não se desgasta, e não pode ser destruído. Sua existência é uma cicatriz no próprio tecido da realidade, um lembrete de que há forças que não devem ser perturbadas. E enquanto houver guerreiros corajosos o suficiente para buscar poder ou respostas, o castelo continuará chamando, esperando pacientemente por sua próxima vítima.