Palácio Cristalino

Imagem de Solaria


Escondido nas profundezas insondáveis da maior fossa oceânica de Thallassari, onde a luz do sol jamais alcança e o silêncio é interrompido apenas pelo eco distante do movimento das correntes abissais, jaz o Palácio Cristalino — outrora o trono reluzente de uma civilização subaquática gloriosa, hoje, um santuário esquecido, devorado pela passagem do tempo e do mar.

Antigamente, o palácio erguia-se com imponência no centro do reino dos tritões, construído a partir de colunas de cristal puro entrelaçadas com minerais raros e pedras preciosas que captavam a luz oceânica e a devolviam em feixes de cores iridescentes. Suas cúpulas e torres reluziam como estrelas em meio ao azul profundo, e dizem que sua arquitetura cantava — emitia vibrações harmônicas que podiam ser sentidas por toda a capital submersa, sincronizando a energia da corte com a pulsação do próprio oceano.

Hoje, o que resta é um cenário de beleza decadente e melancólica. As algas crescem como véus flutuantes sobre os corredores quebrados. Corais coloridos, embora exuberantes, se entranham por entre as colunas rachadas e o que um dia foram vitrais místicos. Conchas ancestrais, muitas maiores que qualquer criatura viva conhecida, colam-se às paredes de cristal como relíquias silenciosas de um tempo em que os tritões reinavam absolutos.

As torres despedaçadas ainda captam, de forma tênue, os brilhos difusos da bioluminescência de criaturas abissais que circulam timidamente pelas redondezas, projetando sombras distorcidas que dançam em silêncio entre as correntes gélidas. Essas silhuetas fantasmagóricas fazem com que o palácio pareça vivo — respirando, observando, sussurrando em seu sono eterno.

No interior, as salas cerimoniais ecoam um silêncio pesado. Enormes cômodos onde banquetes reais e assembleias mágicas aconteciam agora são vastidões vazias, tomadas por limo, moluscos e móveis flutuando lentamente como se resistissem ao esquecimento. Tapeçarias de algas dançam como fantasmas nobres nos cantos. Fragmentos de espelhos encantados ainda refletem imagens distorcidas de rostos que não estão mais ali — talvez memórias, talvez restos de feitiços antigos que não sabem morrer.

O trono da família real, esculpido em cristal maciço, permanece no centro da sala do trono como um farol silencioso, intocado pelo tempo e pelas correntes. Ao redor dele, estátuas sem olhos vigiam em silêncio, com inscrições rúnicas que ainda brilham levemente — como se alguma energia ancestral resistisse, aguardando o retorno de alguém... ou algo.

Ninguém sabe ao certo o que levou à queda de Thallassari. Algumas lendas falam de uma maldição ancestral, lançada sobre o sangue real por um pacto quebrado com as profundezas. Outros sussurram que forças abissais — entidades que habitam além da sanidade, nas trevas mais densas do oceano — ergueram-se contra os tritões, reclamando o que sempre foi seu. E há quem diga que o próprio mar se revoltou, cansado da arrogância daqueles que tentaram controlar seus mistérios.

Hoje, o Palácio Cristalino é evitado por todos: sereianos, híbridos, mergulhadores e até mesmo as criaturas abissais. As correntes que levam até ele são instáveis, e embarcações mágicas perdem o rumo quando se aproximam. Portais selados por encantamentos esquecidos protegem as entradas principais, e os poucos que conseguiram atravessar seus corredores falam de sussurros nas paredes, visões que se repetem, e a sensação constante de estar sendo observado por olhos que não brilham, mas queimam na escuridão.

Dizem que, sob as câmaras principais, existem salões ocultos com bibliotecas seladas em vidro, onde o conhecimento perdido de Thallassari ainda pulsa, esperando ser libertado. Outros afirmam que a alma da última rainha dos tritões ainda habita o trono, envolta em cristal, presa entre mundos por um feitiço autoimposto de proteção.

Mas ninguém sabe a verdade. Porque o Palácio Cristalino não fala com palavras — ele fala com ecos, com imagens, com lembranças de glórias desfeitas. E aqueles que se atrevem a ouvi-lo devem estar preparados para encarar o peso de séculos de silêncio, ruína e arrependimento.

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