No coração de uma densa floresta carmesim — uma extensão viva e pulsante onde cada folha carrega a memória do
sangue ancestral — repousa o enigmático e reverenciado Lago dos Ecos. Essa floresta não é comum, nem sequer
inteiramente natural. Suas árvores, altas como torres esquecidas pelos deuses, têm cascas avermelhadas como
carne exposta ao tempo, e sussurram entre si em línguas antigas sempre que o vento as toca. Ali, nenhuma criatura
humana ousa entrar. Aquela é uma terra sagrada dos híbridos, os seres nascidos da união de diferentes essências:
parte besta, parte espírito, parte carne e parte magia.
Diz-se que os híbridos foram os primeiros a descobrir o lago, muito antes dos mapas ou da linguagem escrita.
Eles sentiam sua presença mesmo antes de vê-lo, como se o lago os chamasse, ecoando através do sangue e da alma.
E uma vez que encontraram seu caminho até lá, jamais o deixaram.
O Lago dos Ecos é um espelho do inexplicável. Envolto perpetuamente em uma névoa espessa e levemente cintilante —
como se o próprio tempo pairasse ali, suspenso —, suas águas escuras irradiam um brilho azul profundo, que pulsa
como se respirasse. Pequenas ondulações dançam na superfície mesmo quando não há vento, como se algo sob a água
estivesse se movendo.
Os mais velhos entre os híbridos acreditam que este lago é um véu entre mundos, um ponto de contato entre o plano
dos vivos e o domínio dos mortos, mas também algo mais — um entrelaçamento entre o real e o onírico, entre o que
foi, o que é, e o que talvez nunca venha a ser. Nas margens, totens de pedra lascada se erguem como sentinelas
esquecidas. Alguns foram esculpidos à mão por gerações de híbridos xamânicos, outros simplesmente apareceram ali,
como se tivessem nascido do solo. Suas superfícies estão cobertas por runas brilhantes, símbolos arcanos que
emitem um leve calor e parecem pulsar em sintonia com o lago.
Cada runa é um sussurro petrificado — uma prece, um encantamento, uma memória. São vestígios de rituais antigos,
muitos dos quais se perderam no tempo. Há histórias de sacerdotes híbridos que sacrificaram parte de suas almas
para compreender os segredos refletidos nas águas. Alguns retornaram com olhos que nunca mais se fecharam. Outros
jamais voltaram. Mas os ecos de suas vozes ainda vivem ali, misturados à névoa, esperando para
serem ouvidos novamente.
Dizem que os que se aproximam do lago com o coração aberto e os ouvidos atentos podem ouvir os ecos do passado ou
vislumbres de futuros possíveis, mas tudo tem um custo. Nem todos são fortes o bastante para compreender o que veem
ou ouvir o que foi esquecido. Aqueles que tentam decifrar os murmúrios correm o risco de serem tragados pela névoa —
e muitos já foram. Tornam-se parte dela, vozes sem corpo, pensamentos que jamais cessam, misturados
ao som das águas.
Na superfície do lago, um barco de madeira escura flutua lentamente, como se obedecesse a uma rota que ninguém pode
ver. Ele não tem remos, nem âncora, nem origem clara. Alguns afirmam que ele pertence a um espírito híbrido, condenado
a vagar por toda a eternidade em busca de algo que perdeu: um amor, um nome, uma memória. Outros sussurram que o barco
é uma espécie de convite. Uma passagem. Um chamado silencioso àqueles que têm coragem de embarcar — e enfrentar o que
aguarda nas profundezas.
Os híbridos mais antigos não tocam no lago levianamente. Antes de qualquer ritual ou travessia, eles desenham símbolos
no próprio corpo, evocam as bênçãos dos antepassados e sussurram votos de proteção à floresta. Pois o Lago dos Ecos
não é apenas um lugar sagrado — é também um juiz silencioso. Ele revela segredos, sim... mas também devora. Ele mostra
visões, mas não garante retorno. Nem todos os olhos que observam sob a névoa pertencem a criaturas vivas.
Muitos olhos esquecidos, ainda vigiam. E o lago, paciente, espera o próximo coração a ser testado.